terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Morte Úmida



Ei-lo, o doente que se desengana...
A úlcera enorme baba gosma escura;
O esqueleto senil se descostura
Ao bote da gangrena soberana.

Linfa, sangue e suor em papa insana,
Na fusão miasmática sem cura,
Por sânie e fel no ventre da amargura
Cospem a podridão da casca humana.

Última convulsão que desgoverna.
A morte chega brusca, horrenda e terna...
Corre na goela hirta fino gume.

A alma ditosa nasce noutro nível.
É o parto novo... E a vida imperecível
Desabrocha qual lírio sobre o estrume.

Augusto dos Anjos
Médium: Waldo Vieira
Antologia dos Imortais

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