terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

O outro “Eu”



Passei na Terra, de ânimo referto
De vãos desejos, a tecer amores.
De uns e de outros colhi só dissabores,
E tinha n’alma apenas um deserto.

Do Amor tão longe, e das paixões tão perto,
Do desespero aos braços e das dores,
A mim dizia: “Elmano, se não fores
Amigo de ti mesmo, o Averno é certo!”

Como, porém, buscar em negro mundo
Essa luz, para achar a mim, perdido
Nas trevas de mim mesmo, no “eu” imundo?

Ouvi, então: “Apura teu sentido,
E acharás, em ti próprio, no ‘eu’ profundo,
O que deveras ser – e não tens sido!”

Bocage
Médium: Porto Carreiro Neto
11/02/47
Publicado no Reformador de dezembro de 47

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