terça-feira, 28 de abril de 2020

Adeus

O sino plange em terna suavidade,
No ambiente balsâmico da igreja;
Entre as naves, no altar, em tudo adeja
O perfume dos goivos da saudade.

Geme a viuvez, lamenta-se a orfandade;
E a alma que regressou do exílio beija
A luz que resplandece, que viceja,
Na catedral azul da imensidade.

“Adeus, Terra das minhas desventuras...
Adeus, amados meus...” – diz nas alturas
A alma liberta, o azul do céu singrando...

– Adeus... – choram as rosas desfolhadas,
– Adeus... – clamam as vozes desoladas
De quem ficou no exílio soluçando...

Auta de Souza 
Médium: Francisco Cândido Xavier 
Do livro
Parnaso de Além-túmulo

Na Era do Espírito

O caos invadira a França,
− Olimpo do pensamento.
O ódio − lobo famulento,
Range as presas com furor.
Nas ruas − Paris descansa;
Em casa − chora em segredo;
Gigante, arrosta, com medo,
As iras do Imperador.

A Nação encarcerada
Lança em nota clandestina
As safras da guilhotina
E explode: − “Revolução! ”
Recorda a Bastilha irada,
Lê Rosseau, à luz da vela,
Esmurra as grades da cela,
Protesta rugindo em vão.

A crença herdada do Cristo
Caíra no sorvedouro
− Turbilhão de pompa e ouro −,
Dobrada ao tacão dos reis.
Em tormento jamais visto,
Nos frios templos, o povo
Exorava aos Céus, de novo,
Novos rumos, novas leis.

A Ciência − clava forte −,
Contra as cadeias medievais,
Partia os grilhões das trevas
Em sarcástico festim,
A exprobar de sul a norte,
Por tirana revoltada:
− “Dominemos! Deus é nada! ”
A morte − o portal do fim!”

Ninguém na fé militante...
Mavorte, em fúria, galopa
Nos campos de toda a Europa!
Na África − a abjeção!
Na Austrália − o progresso infante!
Na Ásia − o suor dos parias
Rola em bagas milenárias!
Na América − a escravidão!

Mas o Espaço se descerra!
Jesus, no esplendor dos sóis,
Recruta gênios e heróis
A iluminar o porvir.
De pólo a pólo, na Terra,
Flamejam etéreas lampas,
Mensagens brotam das campas,
Ao toque de ressurgir!

Aos clarões da Imensidade,
Kardec chega e inaugura
A Doutrina viva e pura
Da razão à luz do bem.
O Espírito de Verdade
Semeia Divina Messe,
O Evangelho reaparece
Nas Vozes do Grande Além!

Falam tumbas, dançam mesas,
Nascem livros, surgem almas,
Luzem preces, chovem palmas,
Hosanas aqui e ali!
Consciências dantes presas
Rompem torva cidadela;
Pastor guiando a procela,
Jesus conclama: − “Servi!”

Ante a ribalta terrestre,
O Direito renovado
Deixa, ao tropel do passado,
Distinções de raça e cor!
Em triunfo, volve o Mestre,
E acende na mente humana,
Desde o palácio à choupana,
O facho do Eterno Amor!...

O mundo voga num misto
De infortúnio e de esperança,
Pranteia a sorrir e avança
Nas Bênçãos do Excelso Pai!
Kardec reflete o Cristo;
Desfralda, em bandeira à frente,
O convite permanente:
– “Espíritas, trabalhai!...”

Castro Alves
Médium: Waldo Vieira
Do livro Antologia dos Imortais

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Tríplice Aspecto

Allan Kardec, em 1857
Nos trouxe o Livro dos Espíritos
Homem bem quisto, estudioso exímio codificador
Trouxe a doutrina espírita o verdadeiro consolador
Kardec para um bom entendimento do Espiritismo
Nos trouxe três aspectos principais a serem definidos
O Espiritismo possui seu aspecto científico bem definido
A considerar a manifestação dos espíritos
Na comunicabilidade
Na experiência prática
No empirismo
No cientificismo
O Espiritismo possui seu aspecto filosófico
O indagar da vida!
De onde eu vim?
Para onde vou?
Quem sou eu?
Onde estou?
Onde devo melhorar-me?
Como espiritualizar-me?
O Espiritismo possui seu aspecto religioso
O “religar” a Deus
O encontro com nossa essência Divina que
nunca termina
Sem rituais, na acepção da palavra
Nas sábias lições que o evangelho nos traz
Nesse tríplice aspecto que a doutrina nos
aporta
No conhecimento filosófico que tanto nos
conforta
Que Jesus seja nosso guia e modelo
Que Kardec seja a base
Que o Espiritismo seja o caminho para nosso
melhoramento moral
Rogando aos benfeitores espirituais
Que nossa estrada seja de bênçãos, fé,
sabedoria e paz!
Nina Lisboa

sábado, 11 de abril de 2020

Garimpo - 46 - Abril/2020


A edição de abril do Garimpo busca dar uma resposta à pergunta:
PARA QUE POETAS EM TEMPOS DE QUARENTENA?

terça-feira, 7 de abril de 2020

Quadras


Verifica o que semeias.

Toda colheita é segura.

Aquilo que procuramos

Vem sempre à nossa procura.
                      Casimiro Cunha


Quem a todos contentasse,

Dando pleno reconforto,

Decerto que sobre a Terra

Teria nascido morto.
                      Cornélio Pires


Cego, no instante do adeus,

Exclamei, voltando à luz

- Louvado sejas, meu Deus!

Bendito sejas, Jesus!
                      Sebastião Lasneau


Médium:
Francisco Cândido Xavier
Do livro:
Trovas do mais além

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Quando penso




(A Leopoldo Cirne)

Deus – quando penso neste nome santo,

Divino poema de imortal grandeza,

Sinto-me preso de um sagrado encanto,

E na alma sinto a inspiração acesa.



Cantá-lo quero e tento, mas, de espanto,

Logo recuo: a própria natureza

Nega-me o auxílio, que num rude canto

Jamais decantarei tanta beleza!



E tento em vão... ah! como a dor me explode

Na alma, sentindo não poder num halo

De rimas pô-lo, e ao coração me acode!



Entanto, se não posso decanta-lo

Como anelava, calmamente pode,

Crente e pura, a razão glorificá-lo!

                   Casimiro Cunha

                   Vassouras, agosto de 1905

In: Reformador, 01 set. 1905